A bióloga Ana Sofia Reboleira, natural das Caldas da Rainha, descobriu na Abecássia o milpés mais profundo do planeta, uma nova espécie que aumenta para 44 as espécies descobertas pela cientista da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca.
Com o nome científico de 'Heterocaucaseuma deprofundum', segundo a bióloga, "uma referência ao facto de ser o milpés que ocorre a maior profundidade", a nova espécie foi descoberta a mais de mil metros de profundidade, numa expedição ibero-russa do Cavex Team à gruta mais profunda do mundo, localizada na Abecássia, no Cáucaso Ocidental. Trata-se de um milpés ou millípede, comummente conhecidos como "maria-café", um animal cavernícola que "vive debaixo de terra e por isso carece de pigmento corporal, tem olhos muito reduzidos, antenas e patas muito longas e alimenta-se de detritos", explicou Ana Sofia Reboleira. A nova espécie, descrita agora na revista Zootaxa, pertence a uma ordem de milpés "que se chama 'Chordeumatida' e é um dos maiores exemplares desta ordem", revelando uma tendência para o gigantismo "muito pronunciada nos animais cavernícolas, tal como acontece com as faunas das ilhas", acrescentou a bióloga. Os exemplares da espécie foram recolhidos na segunda e terceira grutas mais profundas do mundo, pela bióloga, que é também espeleóloga, o que tem contribuído para que tenha descoberto várias novas espécies para a ciência em várias grutas do mundo. "Ao contrário do que acontece no mar profundo, ou na exploração espacial, a tecnologia não permite que sejam veículos operados remotamente a realizar as colheitas, por isso, a única forma de descobrir estes animais é mesmo ir lá e proceder às recolhas nas profundezas destas cavidades", sublinhou Ana Sofia Reboleira. Depois de recolhido, o milpés foi alvo de estudo taxonómico, com recurso à utilização de técnicas microscópicas avançadas, como a microscopia eletrónica de varrimento, que permite uma visão 3D da morfologia externa do organismo. O milpés mais profundo de sempre está depositado no Museu de História Natural da Dinamarca, parte da universidade onde Ana Sofia Reboleira é professora. Com esta, aumentam para 44 as novas espécies descobertas pela bióloga, que é também responsável pela descoberta de cinco novos géneros para a ciência, muitas delas em território nacional, colocando inclusivamente Portugal na lista dos pontos quentes de biodiversidade subterrânea à escala mundial. |
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Março 2024
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